Atendimento Fraterno e Tratamento Espiritual

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A reunião mediúnica, na qual os desencarnados “incorporados” são atendidos por um doutrinador - que preferimos chamá-lo de esclarecedor - ficou consagrada no Movimento Espírita como reunião de desobsessão, mas, na verdade, esse título não revela a extensão e a diversidade do serviço que se realiza nesse encontro semanal entre encarnados e desencarnados. Nele não são atendidos somente Espíritos obsessores conscientes ou não de sua atuação deletéria, mas, também, Espíritos sofredores em situações diversas, tais como os suicidas, os traumatizados pela desencarnação violenta, os acometidos de alienação mental, os que não se reconhecem “mortos”, os descrentes em Deus, os frustrados com os ensinamentos da religião que adotara na vida material, toxicômanos, desequilibrados sexuais e tantos outros.

O propósito, aqui não é examinar a propriedade do nome dessa reunião, mas analisar o que se passa com o Espírito após ser atendido pelo esclarecedor. Convém recordar com André Luiz que o espaço destinado à reunião de desobsessão entre quatro paredes “[...] guarda a importância de uma enfermaria, com recursos adjacentes da Espiritualidade Maior para tratamento e socorro das mentes desencarnadas, ainda conturbadas ou infelizes.” 1 Nesse ambiente, o desencarnado, após o diálogo fraterno com esclarecedor é, muitas vezes, convidado a fazer um tratamento oferecido pelos Espíritos que atuam na instituição, com a finalidade de fortalecer-lhe o moral para o recomeço de nova jornada em direção à Luz.

O Espírito Efigênio contribui com o nosso estudo informando que o Centro Espírita é um expressivo porto de auxílio, erigido à feição de pronto socorro e possui um vasto corpo de colaboradores composto de médicos, religiosos de várias crenças, médiuns espíritas desencarnados, magnetizadores, enfermeiros, guardas, padioleiros e outros prontos a servir, em nome do Cristo, aos desencarnados atendidos na instituição. 2 Somam-se com essa informação os inúmeros testemunhos dos Espíritos que são ouvidos em nossas reuniões, revelando a forma como encontraram o equilíbrio de que necessitavam, participando de estudos doutrinários, assistindo palestras, tomando passes e sendo amparados fraternalmente por um companheiro que lhe serviu de cireneu, pois os primeiros passos na reforma íntima são difíceis de serem dados.

A oportunidade de soerguimento oferecido pela equipe espiritual, dentro de um programa disciplinado e com objetivos definidos é consonante com a função do Centro Espírita que, “[...] revivendo o Cristianismo, é um lar de solidariedade humana, em que os irmãos mais fortes são apoio aos mais fracos e em que os mais felizes são trazidos ao amparo dos que gemem sob o infortúnio.” 3

A dinâmica do tratamento oferecido pelos nossos mentores, no plano invisível, a partir do atendimento dado na reunião de desobsessão, pode servir de modelo, mutatis mutandis, para um tratamento espiritual a ser adotado nas Casas Espíritas, no plano visível, para quem busca socorro no Atendimento ou Diálogo Fraterno, conforme se queira chamar. Após ouvir o irmão necessitado, o Atendente dar-lhe-á esclarecimentos à luz da Doutrina Espírita, para que encontre a consolação de que tanto necessita naquele momento e, em seguida, sem vender-lhe ilusão da solução instantânea dos seus males, mas sim, o alívio - conforme prometeu Jesus (Mt 11:28),  – propor-lhe-á um tratamento espiritual para fortalecê-lo na fé e na esperança para a conquista de melhores dias em sua vida.

No referido tratamento lhe serão solicitados procedimentos que irão se conjugar para que encontre o equilíbrio psíquico-espiritual, devendo, para isso:

a) adquirir o hábito de orar e de fazer a caridade;
b) identificar suas más tendências e combatê-las com perseverança;
c) limpar o seu coração, extirpando dele os ressentimentos e aprender a perdoar.

Para tanto, ser-lhe-á oferecido um roteiro escrito, ministrando-lhe estudo que favoreça o entendimento da dinâmica da vida, do porquê da dor; orientando-o na tomada de passes e de água fluidificada de maneira metódica; adotando a biblioterapia, fazendo leituras apropriadas; buscando formas práticas na vida diária para a manutenção do pensamento positivo e participação em palestras doutrinárias. Conforme o caso, propor-lhe-á a laborterapia, com a execução de tarefas na Casa, sempre condizentes com seu conhecimento e estado psíquico-espiritual. Tudo isso sem violentar-lhe o livre arbítrio e sem interferir nas suas crenças e hábitos. O Sol oferece luz a todos. Fica na sombra quem dele quiser se esconder. Dessa forma, aquele irmão, que antes se sentia desamparado e sem rumo para sua vida, vê-se ao lado de companheiros que o abraçam fraternalmente, fazendo com que vislumbre caminhos antes não percebidos.

Como bem adverte a Mentora Joanna de Ângelis, o atendimento fraterno “Não se propõe a resolver os desafios nem as dificuldades, eliminar as doenças nem os sofrimentos, mas propor ao cliente os meios hábeis para a própria recuperação.” E enfatiza: “O atendimento fraterno na Casa Espírita é de vital importância, para todo aquele que lhe busque ajuda, seja orientando com equilíbrio, guiando-o para o labor de auto-iluminação.4 (Grifamos.) Entendemos, aí, que a Casa Espírita deve oferecer os meios de forma prática a quem dele busca o socorro e guiá-lo na sua empreitada de reforma interior. (Grifamos.)

Assim como a assistência aos desencarnados na reunião de desobsessão não cessa após o diálogo com o esclarecedor, entendemos que o atendimento fraterno também não. Corrigir as mazelas da alma implica em nossa reeducação, exige-nos reforma interior, que demanda esforço, disciplina, dedicação e, acima de tudo, apoio de alguém que, além de nos dizer “levanta-te”, estende-nos, também, a mão. Domar paixões inferiores, não alimentar ódio, inveja, ciúme e orgulho; não se deixar dominar pelo egoísmo e passar a nutrir bons sentimentos e começar a praticar a caridade não são tarefas fáceis de serem implementadas por alma ainda incipiente na prática das leis morais. Ela sempre vai necessitar das diretrizes de um programa de reforma, acompanhada por alguém que lhe inspire confiança e possa levantá-la nos momentos das quedas. Propor ao cliente os meios hábeis para a própria recuperação [...] guiando-o para o labor da auto-iluminação significa, para nós, outorgar ao atendido um programa em que, durante um certo período tenha ele o disciplinamento, o apoio moral e a solidariedade fraterna de alguém na instituição, tal ocorre no plano invisível, para ajudá-lo nos primeiros passos do recomeço.

Waldehir Bezerra de Almeida - Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.


1 XAVIER, Francisco Cândido/VIEIRA, Waldo. Desobsessão. Pelo Espírito André Luiz. 6. ed. Rio de Janeiro-RJ: FEB, cap. 18, p. 77.
2 VITOR, Efigênio S. Visão espiritual de um centro espírita. In Educandário de Luz. Autores diversos, 2. ed. São Paulo-SP: Ideal, cap. 34, p. 80.
3 XAVIER, Francisco Cândido/VIEIRA,Waldo. Estude e Viva. Pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz. Rio de Janeiro-RJ: FEB, lição 39.
4 FRANCO, Divaldo Pereira. Terapia do amor. Mensagem ditada pelo Espírito Joanna de Angelis. In AZEVEDO, Geraldo de, e outros. Atendimento fraterno. 4. ed., Salvador-BA: LEAL, p. 16, 17-18.